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Expresso

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Desgoverno de Lisboa

Muitos são os candidatos para a Câmara de Lisboa numa altura em que esta só não abre falência por ter o apoio do Estado. Como se chegou a esta situação? As explicações são várias e vêm muito de trás o que mostra que apesar de muita coisa ter sido feita por Lisboa, nunca um Presidente da Câmara se preocupou com o futuro e o que vinha a seguir. O mandato era de quatro anos e nunca havia forma de garantir que se ficaria por mais quatro ano pois a maior câmara do país é também um palco político onde os eleitores se preocupam mais a castigar os governos do que a eleger a melhor solução para a cidade. Já para não falar da visibilidade que dá ao presidente que tenta almejar voos mais altos após quatro anos na câmara. E assim se foi gerindo a câmara com uma visão de curto prazo até chegarmos ao ponto de não haver dinheiro para o papel higiénico.

E que soluções se apresentam a votos? Em primeiro lugar e o mais provável próximo Presidente da Câmara é António Costa, uma aposta muito forte por parte do PS. Na minha opinião fazia mais falta ao governo e a nível pessoal penso que é uma forte despromoção, não pelo cargo em si mas pela situação que vai encontrar. Não irá ter visibilidade quase nenhuma porque não há dinheiro para grandes obras. No governo estava a promover reformas que faziam falta ao País. Na câmara vai ter de dar a volta a uma situação financeira muito complicada. Não irá ter maioria absoluta pelo grande número de candidatos e precisará de um grande jogo de cintura. Motivado pelas sondagens aparece o primeiro candidato independente, Carmona Rodrigues. Não saiu em tempo útil, parecendo estar agarrado ao poder mesmo quando já não tinha condições para governar. O PSD tirou-lhe o tapete debaixo dos pés e agora parece que esta candidatura é mais uma vingança do que uma solução. Talvez Carmona queira estar presente quando forem discutidos assuntos sensíveis que estiveram na base dos consecutivos escândalos que abalaram recentemente a Câmara de Lisboa. Quem fica a perder com esta candidatura é Fernando Negrão, candidato do PSD que aparece depois das primeiras escolhas terem recusado. Vai relegar o PSD para uma posição marginal na Câmara, estando a discutir o terceiro lugar com Helena Roseta. No espírito rebelde que baseou a candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República, aparece a Presidente da Ordem dos Arquitectos sai do PS para se poder candidatar como independente e torna-se numa das razões da falta de maioria do PS. Vai ter um papel importante embora não possa aspirar ao resultado de Manuel Alegre nas presidenciais. De seguida aparece Ruben de Carvalho, que ainda não começou a espalhar cartazes, talvez por estar confiante que terá um resultado que lhe garanta ser a solução para a coligação com o PS para poder governar a câmara. Teve um papel importante no último mandato e esta situação é lhe favorável pois poderá integrar o executivo. Do lado Do BE volta a aparecer Sá Fernandes, com o slogan “o Zé faz falta”. De facto Sá Fernandes fez falta na câmara de Lisboa para apontar muitas das trapalhadas que por lá se iam passando. Contudo neste momento a Câmara precisa de estabilidade e não de agitação pelo que não deverá ter problemas para ser eleito mas não será solução para a coligação com o PS. No outro extremo encontramos Telmo Correia, a lutar pela eleição e que poderá também ele ser solução de coligação, apesar das diferenças em relação ao PS. Foi um candidato de recurso e penso que isso lhe poderá valer a não eleição, o que poria o CDS e o recém-eleito líder Paulo Portas em muitos maus lençóis. Sem hipóteses de serem eleitos aparecem todos os restantes candidatos: Manuel Monteiro, motivado pelo sucesso na Madeira mas que não deverá conseguir extrapolar para a maior câmara do país, Pinto Coelho, que tenta capitalizar a recente exposição mediática a que o seu partido esteve sujeito, Gonçalo da Câmara Pereira, que fruto da coligação com o PSD está no Parlamento mas que também não irá conseguir um resultado sozinho, Garcia Pereira e Pedro Quartin Graça, pelo PCTP-MRPP e pelo MPT respectivamente.

3 comentários:

Unknown disse...

Bem vindo à blogoesfera.
Uma análise detalhada e bem estruturada, mas acho que a pré-campanha e a campanha eleitoral vão levar os cidadãos eleitores de Lisboa a perceberem que no estado de falência financeira e não só a que a CML chegou só um executivo forte (vulgo com maioria absoluta) poderá começar a resolver os seus graves problemas.
E assim o PS e António Costa tenderão a subir nas sondagens em detrimento dos candidatos independentes.

Anónimo disse...

Estreias-te logo neste mundo dos blogs com um comentário político. Arrojado...
Deixo apenas um comentário:
ao contrário de vários opinion makers lisboetas, eu acho que o Zé não faz falta. Não só por achar que o histórico do BE nas autarquias não é brilhante (visto que a sua única presidente de câmara está indiciada por crimes de corrupção), mas especialmente porque não há dinheiro na CML, e por isso não vai haver obras. Toda a intervenção do Zé tem sido no sentido de parar obras, colocando os lisboetas a pagar os custos das interrupções às empresas de construção civil, só para ver as obras avançar a seguir. Agora, também graças a isso, não há dinheiro. Sem dinheiro, não há obras. Sem obras para parar, ele não tem muito para fazer. Estar lá, ou não estar, é quase indiferente.

António disse...

fa: concordo contigo que neste momento não faz falta a Lisboa, não tanto por não haver obras mas por neste momento ser necessaria uma grande estabilidade para resolver a situação financeira. Podem-lhe ser apontados defeitos mas também teve um bom contributo ao denunciar o caso bragaparques.