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Diário Economico

Expresso

domingo, 30 de setembro de 2007

O Futuro o mercado financeiro

Na sequência do post sobre a crise de crédito que está a afectar o mercado norte-americano e a alastrar para o resto do mundo, surgem agora 2 desenvolvimentos que podem trazer alguma luz sobre o futuro.
Em primeiro lugar, as sérias dificuldades que uma instituição financeira britânica, a Northen Rock, está a atravessar e que já a levou a procurar fundos extraordinários junto do BoE. Esta é até ao momento a maior demonstração do carácter global da crise, que pode vir a trazer sérios problemas caso venha a contagiar a economia real.
Em segundo, a descida histórica da taxa de juro de referência nos EUA, de 5,25% para 4,75%, de forma a auxiliar as famílias que se endividaram no período de baixas taxas de juro e que agora se encontram em risco de incumprimento. Esta descida foi bem vista pelo mercado accionista americano, que num primeiro momento valorizou-se fortemente. Contudo outras preocupações estão no horizonte. O facto de a descida ser o dobro do esperado revela que a situação pode ser mais grave do que se previa inicialmente, com muitas as reavaliações dos empréstimos a serem efectuadas no próximo ano, prevendo-se que a taxa de incumprimento continue a subir. Por outro lado, o dólar foi afundado com esta medida, encontrando-se em mínimos em relação não só ao Euro, mas de forma global com todas as outras moedas. Isto está a gerar um clima de desconfiança face à posição do dólar como referência mundial para a maior parte das transferências mundiais como é o caso do petróleo. Este movimento de fuga do dólar pode alterar completamente a forma como vemos o mundo mas disso falarei no próximo post.

domingo, 23 de setembro de 2007

O curto prazo como horizonte...

Luís Marques Mendes e o PSD têm vindo a delinear uma estratégia de oposição que assenta, em grande medida, na tentativa de antecipar a possível baixa de impostos que o governo será tentado a fazer em vésperas do compromisso eleitoral de 2009. Perante cada novo número que surge em relação ao crescimento económico português, lá repetem, alguns, a convicção de que os impostos deveriam baixar e de que a despesa pública deveria reduzir-se. Ora todos os governos responsáveis têm, com o panorama mais recente da economia portuguesa, como objectivo reduzir a despesa pública. Não só porque isso contribuiria decisivamente para a redução do défice imposta por Bruxelas, mas também porque uma economia saudável não deve crescer através do Estado, mas sim pela iniciativa privada e pelo investimento das empresas. Um Estado forte terá, então, a missão de regular convenientemente as relações entre os agentes e de garantir a todos um nível de vida mínimo. No entanto, para que se consigam atingir estes objectivos, o Estado não pode ambicionar desenvolver as suas influências para âmbitos que devem pertencer à esfera da iniciativa dos cidadãos e das empresas.

Vem isto a propósito de me parecer que as pessoas do PSD sabem perfeitamente que, neste momento, seria prejudicial para o país e, até, irresponsável, baixar os impostos. O que se esperará desta jogada são, essencialmente, duas coisas. Em primeiro lugar, cativar alguns eleitores, desconhecedores da situação actual, que veriam com bons olhos propostas deste tipo. Penso, ainda assim, não representarem um número relevante neste momento. Por último, pode, se Sócrates decidir baixar os impostos em 2009 sob a justificação de que estamos numa conjuntura mais favorável, apregoar que já há dois anos que exigia essa medida e que o governo apenas lhe está a dar razão. É arriscado politicamente, mas tem hipóteses de ser bem sucedido.

Em relação à redução da despesa pública a análise não é fácil de fazer, a não ser que se considere uma proposta puramente demagógica. Como já referi isso seria o ideal e nenhum governante desta área dirá o contrário. A questão não está em reduzir a despesa mas na forma como isso se consegue. E este governo tem dado passos concretos nessa direcção. E, sobretudo, tem tomado medidas corajosas e que nenhum anterior tinha tido coragem de realizar. Mas o que importa dizer é que a redução da despesa, ainda que fortemente desejável, não é algo que se consiga atingir por um certo número de decisões, nem que seja imposta por decreto. É algo que demora muito tempo, e as medidas que estão a ser tomadas agora e que serão tomadas até às eleições serão, muito provavelmente, alvo de reconhecimento quando o PSD estiver no governo.

É precisamente esta questão que inviabiliza, por vezes, a adequada governação. Os incentivos a governar tendo como horizonte o curto-prazo são, muitas vezes, a diferença entre vencer umas eleições ou perdê-las. Ou vencer com maioria absoluta ou não.