Publico.pt - Política

Diário Economico

Expresso

domingo, 30 de setembro de 2007

O Futuro o mercado financeiro

Na sequência do post sobre a crise de crédito que está a afectar o mercado norte-americano e a alastrar para o resto do mundo, surgem agora 2 desenvolvimentos que podem trazer alguma luz sobre o futuro.
Em primeiro lugar, as sérias dificuldades que uma instituição financeira britânica, a Northen Rock, está a atravessar e que já a levou a procurar fundos extraordinários junto do BoE. Esta é até ao momento a maior demonstração do carácter global da crise, que pode vir a trazer sérios problemas caso venha a contagiar a economia real.
Em segundo, a descida histórica da taxa de juro de referência nos EUA, de 5,25% para 4,75%, de forma a auxiliar as famílias que se endividaram no período de baixas taxas de juro e que agora se encontram em risco de incumprimento. Esta descida foi bem vista pelo mercado accionista americano, que num primeiro momento valorizou-se fortemente. Contudo outras preocupações estão no horizonte. O facto de a descida ser o dobro do esperado revela que a situação pode ser mais grave do que se previa inicialmente, com muitas as reavaliações dos empréstimos a serem efectuadas no próximo ano, prevendo-se que a taxa de incumprimento continue a subir. Por outro lado, o dólar foi afundado com esta medida, encontrando-se em mínimos em relação não só ao Euro, mas de forma global com todas as outras moedas. Isto está a gerar um clima de desconfiança face à posição do dólar como referência mundial para a maior parte das transferências mundiais como é o caso do petróleo. Este movimento de fuga do dólar pode alterar completamente a forma como vemos o mundo mas disso falarei no próximo post.

domingo, 23 de setembro de 2007

O curto prazo como horizonte...

Luís Marques Mendes e o PSD têm vindo a delinear uma estratégia de oposição que assenta, em grande medida, na tentativa de antecipar a possível baixa de impostos que o governo será tentado a fazer em vésperas do compromisso eleitoral de 2009. Perante cada novo número que surge em relação ao crescimento económico português, lá repetem, alguns, a convicção de que os impostos deveriam baixar e de que a despesa pública deveria reduzir-se. Ora todos os governos responsáveis têm, com o panorama mais recente da economia portuguesa, como objectivo reduzir a despesa pública. Não só porque isso contribuiria decisivamente para a redução do défice imposta por Bruxelas, mas também porque uma economia saudável não deve crescer através do Estado, mas sim pela iniciativa privada e pelo investimento das empresas. Um Estado forte terá, então, a missão de regular convenientemente as relações entre os agentes e de garantir a todos um nível de vida mínimo. No entanto, para que se consigam atingir estes objectivos, o Estado não pode ambicionar desenvolver as suas influências para âmbitos que devem pertencer à esfera da iniciativa dos cidadãos e das empresas.

Vem isto a propósito de me parecer que as pessoas do PSD sabem perfeitamente que, neste momento, seria prejudicial para o país e, até, irresponsável, baixar os impostos. O que se esperará desta jogada são, essencialmente, duas coisas. Em primeiro lugar, cativar alguns eleitores, desconhecedores da situação actual, que veriam com bons olhos propostas deste tipo. Penso, ainda assim, não representarem um número relevante neste momento. Por último, pode, se Sócrates decidir baixar os impostos em 2009 sob a justificação de que estamos numa conjuntura mais favorável, apregoar que já há dois anos que exigia essa medida e que o governo apenas lhe está a dar razão. É arriscado politicamente, mas tem hipóteses de ser bem sucedido.

Em relação à redução da despesa pública a análise não é fácil de fazer, a não ser que se considere uma proposta puramente demagógica. Como já referi isso seria o ideal e nenhum governante desta área dirá o contrário. A questão não está em reduzir a despesa mas na forma como isso se consegue. E este governo tem dado passos concretos nessa direcção. E, sobretudo, tem tomado medidas corajosas e que nenhum anterior tinha tido coragem de realizar. Mas o que importa dizer é que a redução da despesa, ainda que fortemente desejável, não é algo que se consiga atingir por um certo número de decisões, nem que seja imposta por decreto. É algo que demora muito tempo, e as medidas que estão a ser tomadas agora e que serão tomadas até às eleições serão, muito provavelmente, alvo de reconhecimento quando o PSD estiver no governo.

É precisamente esta questão que inviabiliza, por vezes, a adequada governação. Os incentivos a governar tendo como horizonte o curto-prazo são, muitas vezes, a diferença entre vencer umas eleições ou perdê-las. Ou vencer com maioria absoluta ou não.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

O final fatídico no BCP ou a preparar uma sequela

Nestas últimas semanas não tenho voltado ao tema do BCP por diversas razões. Em primeiro lugar por falta de tempo, segundo por já ter levado a diversos posts, e finalmente porque achei que o a comunicação social já fazia o favor de encher toda a gente com estatutos e terceiras vias suficientes. Contudo não posso deixar de comentar o final deste filme.
A imagem que passou do banco não podia ser a pior. A austeridade e a reserva sempre foram de ouro na banca e quando vemos banqueiros a dar entrevistas quase diária é muito mau sinal. Significa que têm de se mostrar, preparar o futuro uma vez que vêm a sua posição em risco. Foi o que veio a confirmar hoje Paulo Teixeira Pinto ao demitir-se. Sentia-se frágil no banco e por isso dava entrevistas e desdobrava-se em contactos para aumentar a sua base de apoio accionista. No fim do dia acabou por se deixar vencer numa guerra que nunca teria vencedor e apenas um vencido, o próprio banco.
Mas este filme pode não ter acabado, estando apenas a preparar uma sequela. Filipe Pinhal é apenas o sucessor pelos estatutos, tendo o próximo líder do maior banco privado português ainda de ser encontrado. E este terá novamente de lidar com Jardim Gonçalves se o modelo de gestão não for alterado. Teremos uma segunda parte desta novela?

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

O porquê da crise

No final da semana passada começou a ser noticiada uma crise que já estava a ser fermentada à algum tempo. O que está por trás desta suposta crise nos mercados financeiro é o mercado de empréstimos de alto risco. Alguns fundos compraram instrumentos complexos baseados em crédito concedido a pessoas que não iriam ter possibilidade de o pagar e quando este começou em entrar em incumprimento os fundos foram perdendo dinheiro. Esta estratégia já levou à falência de hegde funds do Bear Sterns. Agora parece que está tudo pior pois a crise está agora a afectar alguns fundos europeus, nomeadamente do BNP Paribas. Os bancos centrais um pouco por todo o mundo estão a injectar dinheiro para fazer face à falta de liquidez e assim segurar os mercados, em quantidades superiores às injectadas na semana dos atentados do 11 de Setembro. Esta situação pode ser comparada com a falência do Long Term Capital Management nos finais dos anos 90 e que levou a uma espiral de pânico nos mercados, bastante pior do que se verifica actualmente. Para resolver a situação o Fed, na altura chefiado por Greenspan, baixou artificialmente as taxas de juros, de forma a fomentar o investimento, o que ficou conhecido como a Greenspan Put. Na altura o pânico durou apenas alguns meses até estabilizar. A grande questão durante esta semana prende-se com a reacção dos mercados quando esse dinheiro for retirado uma vez que a sua manutenção levaria a um nível de inflação que nem o BCE nem o Fed desejam.

Mas este pânico actual não é, portanto, de todo justificável. A economia continua forte, com as empresas a apresentarem resultados positivos. Então porque é que toda a gente resolveu vender? O factor psicológico assume nos mercados um factor fundamental, fortemente documentado e que está a levar à criação de um novo ramo dentro das finanças, o Behaviour Finance. Esta teoria desafia a teoria da Eficiência do mercado estabelecida por Fama nos anos 60. As pessoas por detrás das decisões, não deixando de querer o melhor para si, por vezes não são racionais e preferem estar fora dos mercados em alturas de grande volatilidade. É por isso uma oportunidade para fazer dinheiro à custa da aversão ao risco excessiva do investidor comum.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Israel e Palestina: o "lopping" dos dois Estados

Quando, depois da Segunda Guerra Mundial, se criou o estado de Israel, talvez poucos vaticinassem que, passados sessenta anos, uma das questões mais fundamentais para a estabilidade geopolítica a nível mundial passasse, não só por essa região, mas pela própria definição do estado então criado. George W. Bush anunciou que, neste momento, o seu plano passa pela realização, no Outono, de um conferência internacional que promova a intenção de reavivar a solução de dois estados, Israel e Palestina, que se respeitem e coexistam em paz. Parece-me que esta solução, que vem sendo defendida há já alguns anos, é relativamente consensual para quem olha para esta questão de uma forma desapaixonada e distante (e, por essa razão, potencialmente geradora de erros). Apesar disso, esta “nova” atitude de Washington difere em quase nada daquela que foi defendida, em 2002, pela mesma administração. O que só pode ser visto como um fracasso das iniciativas desde então. Não devemos, no entanto, desprezar esta nova vontade americana de colocar esta questão no topo das suas prioridades. Em primeiro lugar porque os EUA são, em larga medida, os únicos agentes capazes de liderar a definição de uma nova realidade na região, fruto das relações privilegiadas com Israel, que lhes conferem uma autoridade para colocar pressão de uma forma que nenhum outro país conseguirá fazer. E Israel, como “força maior” deste conflito, precisa de ter uma pressão forte, sob pena de uma das partes do conflito não ter incentivos a ceder em questões importantes das negociações. O que implicaria um fracasso certo. Em segundo lugar devido à vontade da actual administração, à semelhança do que já acontecera com Clinton, de, com a aproximação do final do segundo mandato, mostrar determinação em resolver esta delicada questão. Poucas coisas dão mais agrado a um governante do que ficar ligado à resolução de um problema que se arrasta há demasiado tempo.

A União Europeia, por seu lado, pretende desempenhar neste processo um papel importante, que a coloque num patamar da diplomacia mundial que ainda não foi capaz de desempenhar. Neste processo, a liderança natural dos EUA enviesa a análise do papel que a Europa pode desempenhar. A força de União Europeia residirá, não só na forma como conseguir agir a uma só voz, mas também na capacidade que terá de proporcionar a Tony Blair a hipótese de fazer a diferença onde outros anteriormente falharam. Era isto que defendia Teresa de Sousa no Público, na semana passada.

A última questão que me parece fulcral é a forma como se conseguirá, ou não, na tentativa de reforçar Abbas (líder da Autoridade Palestiniana) e marginalizar o Hamas (já em parte conseguida), convergir para uma solução em que o novo estado palestiniano agregue todas as tendências. O perigo é, logicamente, enorme e reside no facto da possibilidade desta questão se tornar num impedimento ao sucesso das negociações, se existir vontade de alguns sectores do povo palestiniano em boicotar a solução. Será difícil entender os verdadeiros motivos que levam os mártires muçulmanos a julgar o conflito com as próprias vidas. Mas não deve ignorar-se o sentido dessa luta. Porque ela pode representar um importante veio de comunicação com o Ocidente e abrir caminho a uma resolução mais estável. No filme “Paradise now”, que retrata esta questão, o realizador Hany Abu-Assad, tenta mostrar-nos a insuportável pressão a que se encontram sujeitas estas pessoas e o terrível mundo subterrâneo dos que os treinam e incentivam. E demonstra que o povo não pode ser confundido com pessoas para as quais o único objectivo é criar instabilidade, que conduza a resolução nenhuma. E que no íntimo das dúvidas que estas acções suscitam está a força que dão a posições radicais do lado israelita.

Provavelmente, estas iniciativas recentes não conduzirão a nada mais que as últimas. Mas há espaço para que seja diferente. E perigos a considerar.

domingo, 22 de julho de 2007

Rescaldo

No passado fim de semana realizaram-se as eleições para a Câmara de Lisboa, que já se discutiu aqui neste blog. E o que se previa? Uma vitória folgada de António Costa com a principal incógnita a ser a distribuição dos vereadores. Uma maioria era muito improvável uma vez que o número 2 do PS sem coligação, o que já não acontecia à várias eleições municipais. Mas o grande vencedor não deixa de ser a abstenção. 62,61% dos eleitores teriam chegado para ganhar com maioria absoluta o candidato que apelasse a esta população que já não se identifica com esta classe política. Fernando Madrinha tinha já avisado antes da consulta popular que não seria o Verão e o sol a impedir as pessoas de votar. Nem de propósito o tempo realmente não puxou para a praia mas mesmo assim os lisboetas não foram às urnas. E porquê? As razões foram adiantadas por diversos comentadores. Fernando Madrinha afirma que é o cansaço em relações aos políticos actuais, defendido e protagonizado por Manuel Monteiro que não consegui levar a sua Nova Democracia para a frente do PNR, de extrema-direita. José António Saraiva afirma que o grande vencedor foi Carmona, que provou que não precisava do PSD e que Lisboa não precisava de eleições. E defendendo o resultado do PSD como a divisão entre dois candidatos. Mas o PS também teve os seus votos divididos e sem Helena Roseta na corrida seria difícil aos restantes candidatos retirar a maioria história ao PS na Câmara de Lisboa. Por tanto podemos ver que existem vários factores em jogo. Os independentes a retirarem votos aos principais partidos e a baralharem as suas contas, e a elevada abstenção, mesmo com 12 candidatos.
E como é que os resultados afectaram o quadro político nacional? As mais pesadas derrotas, do PSD e do CDS, foram as que causaram mais danos. O PSD entrou esta semana numa luta de liderança que poderá apenas servir para desgastar mais o actual líder, como é hábito no PSD quando não está no governo. É o que afirma Henrique Monteiro no Expresso desta semana. É o que já se previa. Marques Mendes era um líder para levar o partido durante a travessia do deserto dos primeiros anos do Governo de Sócrates. Apenas se pondera agora quando a melhor altura para colocar outro líder para disputar em 2009 as legislativas já por si complicados. No CDS o recém eleito Paulo Portas a pagar pela forma como foi eleito, o que afastou a melhor candidata do partido Nogueira Pinto, e num golpe desesperado sacrifica um dos seus mais fies seguidores, Telmo Correia. Muitos dentro do partido defendem a sua manutenção para que afunde o partido e que saia de vez da cena política. Outros pedem já a sua cabeça. Não foi um regresso sebastiânico como se esperava.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Por que vai Costa ganhar Lisboa

As eleições intercalares para a Câmara de Lisboa estão, desde a sua antecipação e da apresentação de António Costa como candidato pelo PS, condenadas à vitória da alternância e a serem quase relegadas para segundo plano, tanto no noticiário nacional como na consciência colectiva da importância deste escrutínio. Isto apesar da sensibilidade política motivar a possibilidade de uma forte penalização do governo, em queda nas sondagens. Existem, no entanto, algumas explicações para que isso não suceda.

A primeira razão prende-se com a anterior governação. Tenho por Carmona Rodrigues uma impressão de seriedade. No entanto, a sua actuação no campo político, já que tempo não houve para uma análise mais profunda, foi pouco mais que aceitável. Durante o tempo em que governou a Câmara nunca deu a ideia de controlar verdadeiramente a situação e deixou que o partido pelo qual tinha sido eleito lhe tirasse o tapete quando mais precisava de apoio. E isso aconteceu porque a sua dinâmica de actuação foi sempre reactiva e nunca pró-activa. Tentou reagir à situação cada vez mais constrangedora da Câmara, reagiu sempre às declarações de Marques Mendes, reagiu à sua tomada de decisão de provocar eleições… sem nunca mostrar estar ao leme da autarquia, com a situação controlada. Mas antes passando para a opinião pública a ideia de que não conseguia vencer as sempre numerosas influências partidárias. Em política, tão importante como fazer, é demonstrar que se sabe o que se está a fazer e que se tem um caminho definido, sendo convicto e convincente. Foi precisamente o que Carmona Rodrigues nunca demonstrou ser.

O segundo aspecto importante que determinará a vitória de António Costa tem a ver com a situação financeira da câmara. De tão aflitiva que é (embora sem responsabilidade directa aparente do presidente cessante), não deixa margem de manobra ao eleitorado para decidir por uma personalidade de risco (como seria Helena Roseta) e beneficia a maior previsibilidade da alternância entre os dois grandes partidos (ao contrário do que se poderia pensar numa primeira análise). Por outro lado, os lisboetas, neste momento, recebem com agrado as constantes palavras que o candidato tem dedicado a este tema, considerando-o o mais importante na governação de curto prazo. E é, sem dúvida. Não é tão claro, ainda assim, que a aposta na repetição deste argumento em campanha seja produtiva para quem a faz. No entanto, parece-me claro que, neste momento, o é. O país e Lisboa estão numa situação de crise mental, o que beneficia a frontalidade das propostas mais realistas.

Por último, mas não menos importante, é a forma como, nos últimos anos, se assiste às eleições em Portugal, Os cidadão estão cada vez mais longe da actividade política e alheados das verdadeiras propostas de cada candidato. Isto implica, necessariamente, uma maior previsibilidade nos resultados, que não serão muito diferentes das sondagens do dia a seguir ao anúncio da realização de eleições. O que só demonstra a quase inutilidade da campanha para os resultados finais. Os candidatos são previsíveis, não deixam escapar um pormenor do enfeite mediático e pouco se diferenciam. É, assim, hoje improvável observar uma recuperação, como aconteceu, por exemplo, com Mário Soares nas presidenciais de 86.

António Costa vai, portanto, vencer as eleições sem que para isso tivesse de realizar uma grande campanha ou esboçar um grande plano para a cidade. Oxalá o tenha…
Agradeço as palavras de apresentação e espero responder ao desafio com opiniões construtivas.
Auguro a que este seja um espaço de discussão saudável.
Obrigado pelo convite meu caro amigo.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Novo Colaborador

Alguns já o conhecem, outros vão passar a conhecer, mas é com muito orgulho que anuncio que o meu grande amigo Pedro Barroso vai começar a colaborar neste blog, passando a ser mais multipessoal.

FMI e Flexisegurança, BCP e Benfica

Nas duas semanas que passaram muitos dos assuntos da actualidade tiveram desenvolvimentos, alguns estranhos, outros previsíveis

No final do mês passado o FMI divulgou um relatório sobre Portugal onde defendia as reformas que se têm vindo a verificar mas que estas teriam de continuar e ser mais profundas uma vez que, apesar de apresentar significativas melhorias, Portugal ainda enfrenta grandes dificuldades. Uma das áreas em foco neste relatório é o mercado laboral, que se encontra muito rígido, não permitindo ao país acompanhar o desenvolvimento europeu. É que em alturas de expansão económica é fácil crescer-se a ritmos superiores aos da média europeia pelo efeito catching-up (os países mais pequenos crescem em média mais que os maiores). Só que durante recessões isso já não acontece se estivermos a competir com economias mais dinâmicas e flexíveis. Tal como referi num post anterior, “A manutenção do “status quo” dos direitos adquiridos, (…), está a levar a que o nosso país seja apontado como um dos piores a nível da rigidez do mercado de trabalho e as consequências directas desta classificação é a perda de competitividade e o desemprego”. Não se trata de avançar para as leis laborais chinesas, como ironicamente refere Nicolau Santos, no seu artigo do Expresso mas de permitir a Portugal acompanhar os restantes países europeus. Concordo no entanto que apenas isso não basta e toda uma politica económica tem de continuar a ser seguida pelos próximos governos. Mas esta legislação laboral está a ser um factor essencial para a nossa falta de competitividade. É o que defende Manuela Ferreira Leite na mesma página. Apesar das leis laborais terem uma razão histórica, não se adequam à economia global que vivemos actualmente.

No BCP a guerra pela liderança do banco escalou, com ambos os lados a assumirem as divergências que já eram evidentes. Jardim Gonçalves escreveu esta semana uma carta aos accionistas, acusando Paulo Teixeira Pinto de falta de lealdade. Com a AG marcada para dia 6 de Agosto, vai saber-se nos próximos dias as moções que irão ser apresentadas. E ai saberemos com que podemos contar, numa AG que irá ser seguida por toda a gente interessada no futuro do maior banco privado português. Este sábado, .também no Expresso, Henrique Monteiro fala da guerra aberta no banco e de como poderá não haver vencedores, se apesar de derrotar Jardim Gonçalves, Paulo Teixeira Pinto não conseguir defender o banco de uma OPA estrangeira. É que o processo de integração do sector bancário europeu não pára e a dimensão do BCP torna-o num alvo bastante apetecível.

Na SAD do Benfica, a OPA de Berardo foi registada sem alterações, para no dia seguinte surgir o rumor de que existe um grupo chinês interessado na sua compra e que poderá oferecer o dobro da contrapartida de Berardo. A compra de clubes de futebol por empresas não é novidade e nos Estados Unidos, equipas de basebol e de basket trocam frequentemente de dono. Na Europa esse movimento é mais comum na Inglaterra. Em Portugal, com a entrada do Benfica em bolsa, tudo esse processo chegou cedo e depressa demais, sem que nos pudéssemos preparar para ele. No editorial de sexta do Jornal de Negócios, Pedro Guerreiro defende que estão a brincar com as acções do Benfica. É possível que sim, uma vez que mais do que uma empresa, a SAD que é controlada pelo clube representa muitos sócios e simpatizantes que mais do que racionalmente, vivem o clube com muita emoção.

domingo, 1 de julho de 2007

Batalha no BCP continua

Segundo o Publico de ontem Jardim Gonçalves está cada vez mais sozinho na estrutura do BCP e estuda a hipótese de destituir Teixeira Pinto como CEO do banco. Apesar de ser apontada como razão o negócio com a Sonangol, a divisão já vem de trás, com Teixeira Pinto a ser preferido por um grupo de accionistas que parou o aumento de poder do presidente do Conselho Geral e de Supervisão (CGS) na última AG. Agora é Jardim Gonçalves quem contra ataca e tenta passar uma moção para destituir o actual CEO, pelo que também já se encontra a procurar aliados na estrutura accionista do banco. São estas movimentações que têm suportado as acções, com os pequenos accionistas a realizarem as mais valias dos últimos tempos e com o reforçar dos maiores para poderem ter uma palavra a dizer. E quem tem o maior trunfo é o BPI com os seus 7,2% do banco e que ainda não tomou partido.

Este fragilizar do maior banco privado português só torna mais fácil uma OPA que poderia ser a terceira alternativa à liderança do banco e provavelmente a que traria maior retorno para os seus accionistas. E acredito que haja muitos candidatos a seguir atentamente o desenrolar dos acontecimentos para aproveitarem o melhor momento.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Batalha no BCP

O Diário Económico publicou hoje que um grupo de accionistas de relevo do BCP vão pedir uma AG para alterar os estatutos de forma a eliminar o conselho de supervisão, liderado por Jardim Gonçalves. Este modelo de governação assenta na experiência anglo-saxónica, apenas presente em Portugal na PT e na PTM. A nível teórico este modelo tem como fragilidade a falta de controlo sobre a Comissão Executiva, que nos países onde é comum, é substituída por um mercado forte, onde os gestores são avaliados ao segundo pela cotação das acções. Esta acção de controlo tanto se pode manifestar pela queda no preço como pela ameaça constante de takeovers. Na Europa Continental, o modelo vigente assenta em dois organismos distintos, sendo tarefa do Conselho de Administração (ou Conselho de Supervisão no caso do BCP) zelar pelos interesses dos accionistas e controlar a actuação da Comissão ou Conselho Executivo. Sabendo da pouca liquidez do mercado português assim como todos os artifícios que não permitem o mercado funcionar na sua plenitude, estou contra esta eliminação do ponto de vista teórico. Do ponto de vista estratégico, em que esta situação daria mais poder a Paulo Teixeira Pinto, eliminando de forma permanente o fantasma da pressão de Jardim Gonçalves sobre o governo do banco, é algo para os accionistas decidirem. E não é um ponto pacífico sendo previsível que seja bloqueada por uma minoria fiel ao fundador e actual presidente do conselho de supervisão.

Esta instabilidade só torna evidente que os accionista apenas se encontra à espera de uma oferta de compra ao banco, uma vez que as acções não param de subir mesmo neste período de indefinição, quando deveriam estar a ser penalizadas.

sábado, 23 de junho de 2007

OPA ao Benfica, onde o desporto e os negócios se cruzam

Joe Berardo lançou a semana passada uma OPA ao Benfica SAD. Como qualquer empresa cotada, a sociedade que gere o Benfica tem de estar sujeita a este tipo de acções por parte do mercado. Contudo, por ser uma instituição de serviço público não pode ser tomada de assalto de qualquer maneira. Estas questões de futebol são muito difíceis de analisar por se ter sempre uma visão apaixonada que não nos permite avaliar os factos de forma racional.
Mas o que pretende Joe Berardo desta OPA? Apesar de dizer que lançou esta OPA com o coração, o racional continua a ser o mesmo que todas as outras posições na sua carteira: fazer lucro. A marca Benfica está sob aproveitada, é o clube com mais sócios no mundo, mas tudo isso parece não fazer levar o clube a lado nenhum. Contudo este Abramovich português pode ser um passo importante para que o Benfica se possa afirmar em Portugal e na Europa. E os primeiros sinais estão a chegar com a disponibilidade de Joe Berardo financiar contratações. Mas será suficiente? O Chelsea apesar do bom plantel e da pouca falta de dinheiro já passou uma época sem qualquer resultado de relevo. O que nos faz pensar se clubes de futebol se podem comparar com empresas.
A melhor associação feita entre o desporto e o mundo empresarial é o livro Moneyball, de Michael Lewis, que nos mostra como uma equipa de baseball sem muitos recursos conseguem resultados extraordinários, sendo olhada de lado pelo principais comentadores e pelas restantes equipas. O grande obstáculo tem sido que, apesar de fazer sempre épocas regulares formidáveis, quando chegava aos playoffs nunca conseguia vingar pois faltava sempre uma pontinha de sorte. E é aqui que o desporto de distingue do mundo empresarial. O factor sorte é muito superior no desporto, apesar de também existir nos negócios.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Fnac: preços altos ou melhor serviço

À mais ou menos um mês recebi pela segunda vez uma chain mail sobre a Fnac a argumentar contra o “escândalo” que eram as diferenças de preço na Fnac em comparação com o Jumbo. Já muita gente o deve ter recebido pois como já o recebi duas vezes ainda deve andar a ser reenviado. Sobre os chain mails que defendem que se não forem reenviados a 15 amigos vais ser atingido por um raio ou uma criança do Kénia já não vai receber um rim, etc, escreverei noutra altura.
Voltando ao referido mail, o autor refere que a Fnac quando chegou ao mercado tinha preços imbatíveis e assim arrumou para o lado lojas como a Valentim de Carvalho, Loja da música, discoteca Roma entre outras. Mas passados 8 anos parece que os preços agora já não são tão baratos e como alternativa o autor sugere o Jumbo ou a Worten para se comprarem os DVD’s ou os CD’s.
Este mail gerou bastante discussão no meu grupo de amigos (todos licenciados em economia ou gestão) pois se a Fnac continua a ter lucros mesmo mantendo os preços altos algo mais deveria estar por trás de todo o serviço. É a eterna discussão entre diferenciação ou redução dos custos.
Algumas citações dessa discussão:

“…a distribuição de DVD e CD é um mercado de concorrência imperfeita e se eles cobrando preços mais altos continuam a vender e muito então não vejo onde está o escândalo. Estamos a pagar a marca Fnac e tudo o que esta associado (atendimento, qualidade do espaço e arrumação).”

“Também não percebo o escândalo: na Fnac têm tudo e mais alguma coisa, procuram-te os DVD’s, encomendam-te se não houver, etc. No Jumbo, andas tu à procura, só tens os DVD’s que vendem muito, se estiver esgotado não encomendam de propósito, etc. O preço é sempre justo se não houver coacção. Queres, vais. Não queres, não vais. Ou melhor ainda, abres uma loja concorrente.”

“Têm razão para reclamarem do preço e a melhor maneira que têm de se fazerem ouvir é irem comprar a outro lado. Se isto for um movimento geral a Fnac vai ter menos vendas e baixa os preços. O que podemos argumentar é se as pessoas são parvas e não percebem isso ou se no subconsciente a utilidade que dão a toda a marca Fnac compensa a diferença no preço. Na minha opinião compensa (não estou a ver ninguém a ler este mail e pensar "realmente nunca pensei nisso..." pois já todos fomos à Worten e ao Jumbo e sabemos que os preços são mais baratos). Eu falo no meu caso em particular. Gosto de ir à Fnac mesmo não comprando nada (…) e à Worten ou ao Jumbo isso já não acontece. Por vezes nessas minhas incursões vejo algo que quero e não tenho problema nenhum em comprar ali logo ou se preciso de alguma coisa que não encontro em encomendar ai mesmo, em vez de descer as escadas para ir à Worten.”

"O conceito de custos de procura foi dos conceitos mais interessante que me apareceram na faculdade. Tem alguns custos andar para trás e para a frente à procura do melhor preço e se calhar esses custos não compensam a diferença de preços. Vamos lá também ver outra coisa. 2 euros é dinheiro mas não assim tanto que eu perca uma tarde a correr o Colombo todo à procura do melhor preço. Quero um CD ou um DVD, também me interesso por livros, tenho isso tudo no mesmo sítio e poupo esse custo de procura. A diferença de preços justifica-se? Depende da utilidade de cada um. Se gostamos de comprar qualquer coisa só para dizer que foi o mais barato do que o teu tudo bem. Eu compro as coisas por me fazerem falta e por me darem prazer.”

“Aí tens toda a razão quanto à diferença de utilidades, agora conseguires medir o efeito entre a perda da utilidade por adquirires o produto a um preço inferior e o ganho que obtemos por um menor tempo de procura numa economia, desafio-te a medir isso...”

“Se não consegues medir com rigor, medes com base numa estimativa. E as decisões dos consumidores (preferência revelada) mostram que alguns preferem, com base nessa estimativa, pagar mais caro e ir à FNAC, do que pagar mais barato e ir ao Jumbo. Há mercado para ambos os conceitos.”

Eu não ganho qualquer comissão na Fnac mas penso que este tipo de mails insultam a inteligência de quem é, como eu, cliente assíduo da Fnac.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Flexisegurança ou o fim da competitividade Nacional

Muito se tem falado nos últimos tempos sobre flexisegurança. Para os sindicatos não passa de um demónio que permitirá aos patrões despedir indiscriminadamente os seus trabalhadores, a troco de mais uns tostões no subsídio de desemprego.
Mas a flexisegurança é mais que isso. Baseia-se na flexibilidade a contratar, despedir e ajustar e segurança durante o desemprego. Aqui não se baseia apenas no aumento do subsídio mas principalmente na qualificação e na rapidez com que se encontra o novo emprego.
A manutenção do “status quo” dos direitos adquiridos, que é a principal bandeira dos sindicatos, está a levar a que o nosso país seja apontado como um dos piores a nível da rigidez do mercado de trabalho e as consequências directas desta classificação é a perda de competitividade e o desemprego, motivado pelo desinvestimento estrangeiro. Não podemos chorar sempre que uma determinada fábrica decide fechar as portas, levando ao desemprego de centenas de trabalhadores. Se pensarmos que um mercado de trabalho mais flexível poderia ter levado a que, apenas despedindo poucas dezenas de trabalhadores, se tivessem salvo os restantes postos de trabalho, a flexibilidade surgiria como um factor empregador e não causa de desemprego. Outro aspecto a favor da flexisegurança é a aposta na formação, uma vez que já não existem empregos para a vida e só um desempregado formado poderá mudar de emprego facilmente.
O subsídio de desemprego atribuído de forma indiscriminada só faz com que a procura activa de emprego baixe, existindo toda uma economia paralela que trabalha de forma clandestina, recebendo ainda o subsídio. Este tem de ser fiscalizado e ser atribuído apenas numa fase transitória que não deverá se prolongar como acontece actualmente.
O que está em causa não é a perda de direitos dos trabalhadores. É a evolução para um mercado de trabalho mais eficiente e adaptado à realidade dos nossos dias.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Manual de como fazer política e lavar dai as mãos

Esta semana conheceu a sua sentença Lewis “Scooter” Libby, ex-conselheiro de George W. Bush e antigo chefe de gabinete do seu vice-presidente Dick Cheney. E porque foi condenado este alto funcionário da administração americana? Por ter divulgado a um jornalista a identidade de uma agente da CIA. O artigo resultante apareceu no Washington Post a 14 de Julho de 2003 e desencadeou um grande alvoroço na imprensa norte americana, pois a revelação do nome de uma agente secreta é crime. Após se ter seguido o rasto da fonte chegou-se à conclusão que tinha sido directamente do gabinete do vice-presidente Dick Cheney e confirmada depois por Karl Rove, chefe do gabinete do próprio George W. Bush. Uma pergunta pertinente seria a razão desta fuga de informação que para alem de constituir crime, compromete todas as operações em que a dita agente estava envolvida. E a resposta também não é difícil de encontrar pois esta agente é casada com o antigo diplomata Joseph Wilson, que defendeu num artigo no New York Times que o Iraque não estava a comprar urânio em Africa, um dos argumentos usados pela administração Bush para invadir aquele país.

Alguma cabeça tinha de rolar e o escolhido foi e chefe de gabinete do Vice-presidente Dick Cheney, que se mostrou desapontado com a sentença, pelo trabalho prestado por Libby ao país. A questão parecia resolvida não fosse o recurso de Libby de forma a adiar o cumprimento da pena, que poderia levar a que Bush, no fim do seu mandato, lhe desse um perdão presidencial. É incrível como a estratégia parece estar definida desde o início e já lá vão quatro anos desde que toda esta história começou.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Quem tem medo de ser comprado?

Num exemplo mais recente, o BCP. O sector bancário não permite ficar-se sentado à sombra da bananeira e a necessidade de expansão é fundamental para não se servir de alvo de compra pelos concorrentes. É isso que o BCP tem feito. Primeiro com o Atlântico e com o Mello, agora com as operações falhadas junto do banco romeno BCR e do BPI. É um sector onde ou se compra ou se é comprado. E não comprando o BCP tenta agora defender-se como pode, tentando blindar os seus estatutos, tornando bastante mais difícil uma OPA contra si. Os accionistas recusaram, percebendo que uma potencial OPA poderá trazer-lhe lucros. E é este o principal motivador dos accionistas, o retorno dos seus investimentos através da valorização das suas acções.
O que defende Marcelo Rebelo de Sousa nas suas escolhas deste domingo não faz portanto qualquer sentido. Os accionistas estão no BPI para rentabilizarem o seu investimento e se uma OPA vier a acontecer, eles tomaram a decisão que maximizar o seu retorno: ou vendem, acreditando que é o momento mais propício, ou não vendem, escolhendo a actual equipa de gestão liderada por Teixeira Pinto. Mesmo que essa oferta seja de um banco estrangeiro como o caso do ABN. Esta visão proteccionista de que tudo o que vem de fora é mau tem de acabar. Se nos queremos expandir para fora do país, e aplaudimos quando os nossos empresários o fazem, temos de deixar o mercado decidir quando a situação é a inversa. Ou então saímos da União Europeia e voltamos a mais meio século de autarcia.

António Borges, um dos portugueses mais influentes a nível de Corporate Governance, defende, numa entrevista ao Público de ontem, que o mercado é a melhor forma de defesa das empresas pois a sua disciplina obriga a que a empresa seja sempre bem gerida, sob pena de se ser alvo de uma OPA. Ao blindar os estatutos as empresas estão a dar carta branca aos seus gestores para não se sentirem preocupados pelas pressões de compra dos seus concorrentes. E isso só prejudica os accionistas, uma vez que não é maximizado o valor do seu investimento. E consequente é mau para as empresas e para a sua competitividade e é essa a questão fundamental.

Entrevista de Paulo Teixeira Pinto ao Diário Economico

domingo, 3 de junho de 2007

Doar ou vender

Na última semana foi notícia um reality show que quando ouvi pela primeira vez pensei que só podia ser brincadeira e que a Endemol tinha batido no fundo. O objectivo era uma doente terminal escolher entre três concorrentes quem ficaria com o seu rim quando morresse. Mas quando comecei a ver a exposição mediática que estava a ter ponderei que talvez fosse a sério e que a estação televisiva holandesa BNN iria mesmo para a frente com o programa. Um coro de protesto se elevou, como seria de esperar, e questões morais e éticas foram apontadas aos produtores e aos directores do canal, que pareciam decididos em fazer passar a mensagem, pois o criador do canal tinha morrido de insuficiência renal sem nunca ter recebido o rim que poderia salvar a sua vida.
Acabou por não passar tudo de uma encenação e o doente terminal que iria escolher quem ficaria com o seu rim não passava de uma actriz contratada, embora os concorrentes fossem de facto doentes com insuficiência renal. O grande objectivo do programa era promover a discussão e encontrar soluções.

Os incentivos à doação de órgãos não são propriamente os mais motivadores. Desde medalhas (que seria o equivalente adulto aos prémios dados em colónias de férias para crianças…) a descontos no funeral (que já não será da responsabilidade do doador) passando por menos tempo de prisão ou como em Israel que, não pagando pelo órgão, têm ajudas de custos que vão para além das despesas efectivas, existem muitas tentativas para acabar com a escassez de órgãos para transplante.

Há cerca de um ano li um post no Freakconomics e o consequente artigo no New York Times que alterou completamente a minha visão sobre o assunto. E se fosse permitido ao mercado corrigir esta escassez, permitindo aos doadores vender os seus órgãos ainda vivos. As objecções morais são evidentes mas tentemos pensar um pouco sem o calor das emoções. A nível médico, um rim retirado de uma pessoa viva é muito melhor que um rim retirado de um cadáver. Uma pessoa pode viver uma vida plena com apenas um rim, quando este pode fazer com que uma pessoa com insuficiência renal viva. Os custos para o doador são portanto muito inferiores que o benefício para quem recebe o transplante. Existe portanto um ganho lógico e global que advém dessa transacção. No estado corrente, o ganho para o receptor é óbvio, o médico e as enfermeiras também ganham com isso, assim como o hostipal e as farmacêuticas. Só o doador tem de desempenhar a sua função de puro altruísmo sem receber nada, com o custo de ter de viver com menos um rim. Não é portanto difícil de perceber o porquê da escassez de órgãos para transplante.
Moralmente talvez ainda não estejamos preparados para este mercado. Mas quantas pessoas têm de morrer para que estejamos?

quinta-feira, 31 de maio de 2007

O problema da Democracia

A democracia é o melhor sistema político que temos, mas existem alturas em que se revela claramente insuficiente. Na Venezuela, o presidente Hugo Chavez é rei e senhor e, por mais vezes que os seus opositores o sujeitem a eleições, com maior margem ganha. Pode-se pensar em fraude mas a fiscalização internacional é unânime na legalização destas consultas populares.

Neste momento está a limitar cada vez mais essa democracia com o encerramento forçado de uma televisão privada e a ameaça de mais se seguirem. Mas a verdade é que a cada manifestação contra o regime vigente aparece sempre outra tão ou mais numerosa a favor da continuação de Chavez no governo. O fenómeno não é novo e é um resultado directo da democracia. Já na Alemanha do início dos anos 30s, Hitler ascendeu ao poder num clima de depressão económica através de propostas concretas para resolução da crise e apontando os culpados, sendo desta forma aclamado pela maioria dos eleitores. No início do século XXI os culpados eleitos por Chavez são os Estados Unidos da América, liderados por George W. Bush.

Os Estados Unidos, o “maior” bastião democrático do mundo, já o tentaram retirar à força, existindo imediatamente um contra golpe repondo Chavez de novo no poder. Aliás se verificarmos todas as vezes que os Estados Unidos patrocinaram directa ou indirectamente golpes de estado em países sobre regimes ditatoriais as soluções encontradas não foram de todo “democráticas”. Nos exemplos mais recentes do Afeganistão e do Iraque as situações em que se encontram estes dois países podem ser apelidadas de tudo menos de democracias. Mais uma vez podemos verificar que o facto de a Venezuela ser um dos maiores exportadores de petróleo do mundo também não é indiferente aos Estados Unidos, sendo preferível existir nesse país um regime mais pró-americano. Mas Chavez é um dos maiores adversários de Bush e o facto de ser legitimamente eleito é o elemento mais problemático para a actuação americana nesse país. A última coisa que Bush precisa é de mais um regime comunista na América do Sul, principalmente um que os Estados Unidos não podem boicotar à imagem de Cuba pois necessitam do seu petróleo. Os Estados Unidos têm 5% da população mundial e consomem 25% da energia mundial e é esse o grande poder de Chavez que o torna incómodo. Tem uma forte notoriedade na América Latina e alarga-a através da dependência que criou do seu petróleo.

Com Bush a terminar o mandato em breve este será um problema a ser lidado pela nova administração americana. Mas enquanto for legitimamente eleito pela maioria da população, Chavez deverá ter o seu lugar seguro.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Desgoverno de Lisboa

Muitos são os candidatos para a Câmara de Lisboa numa altura em que esta só não abre falência por ter o apoio do Estado. Como se chegou a esta situação? As explicações são várias e vêm muito de trás o que mostra que apesar de muita coisa ter sido feita por Lisboa, nunca um Presidente da Câmara se preocupou com o futuro e o que vinha a seguir. O mandato era de quatro anos e nunca havia forma de garantir que se ficaria por mais quatro ano pois a maior câmara do país é também um palco político onde os eleitores se preocupam mais a castigar os governos do que a eleger a melhor solução para a cidade. Já para não falar da visibilidade que dá ao presidente que tenta almejar voos mais altos após quatro anos na câmara. E assim se foi gerindo a câmara com uma visão de curto prazo até chegarmos ao ponto de não haver dinheiro para o papel higiénico.

E que soluções se apresentam a votos? Em primeiro lugar e o mais provável próximo Presidente da Câmara é António Costa, uma aposta muito forte por parte do PS. Na minha opinião fazia mais falta ao governo e a nível pessoal penso que é uma forte despromoção, não pelo cargo em si mas pela situação que vai encontrar. Não irá ter visibilidade quase nenhuma porque não há dinheiro para grandes obras. No governo estava a promover reformas que faziam falta ao País. Na câmara vai ter de dar a volta a uma situação financeira muito complicada. Não irá ter maioria absoluta pelo grande número de candidatos e precisará de um grande jogo de cintura. Motivado pelas sondagens aparece o primeiro candidato independente, Carmona Rodrigues. Não saiu em tempo útil, parecendo estar agarrado ao poder mesmo quando já não tinha condições para governar. O PSD tirou-lhe o tapete debaixo dos pés e agora parece que esta candidatura é mais uma vingança do que uma solução. Talvez Carmona queira estar presente quando forem discutidos assuntos sensíveis que estiveram na base dos consecutivos escândalos que abalaram recentemente a Câmara de Lisboa. Quem fica a perder com esta candidatura é Fernando Negrão, candidato do PSD que aparece depois das primeiras escolhas terem recusado. Vai relegar o PSD para uma posição marginal na Câmara, estando a discutir o terceiro lugar com Helena Roseta. No espírito rebelde que baseou a candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República, aparece a Presidente da Ordem dos Arquitectos sai do PS para se poder candidatar como independente e torna-se numa das razões da falta de maioria do PS. Vai ter um papel importante embora não possa aspirar ao resultado de Manuel Alegre nas presidenciais. De seguida aparece Ruben de Carvalho, que ainda não começou a espalhar cartazes, talvez por estar confiante que terá um resultado que lhe garanta ser a solução para a coligação com o PS para poder governar a câmara. Teve um papel importante no último mandato e esta situação é lhe favorável pois poderá integrar o executivo. Do lado Do BE volta a aparecer Sá Fernandes, com o slogan “o Zé faz falta”. De facto Sá Fernandes fez falta na câmara de Lisboa para apontar muitas das trapalhadas que por lá se iam passando. Contudo neste momento a Câmara precisa de estabilidade e não de agitação pelo que não deverá ter problemas para ser eleito mas não será solução para a coligação com o PS. No outro extremo encontramos Telmo Correia, a lutar pela eleição e que poderá também ele ser solução de coligação, apesar das diferenças em relação ao PS. Foi um candidato de recurso e penso que isso lhe poderá valer a não eleição, o que poria o CDS e o recém-eleito líder Paulo Portas em muitos maus lençóis. Sem hipóteses de serem eleitos aparecem todos os restantes candidatos: Manuel Monteiro, motivado pelo sucesso na Madeira mas que não deverá conseguir extrapolar para a maior câmara do país, Pinto Coelho, que tenta capitalizar a recente exposição mediática a que o seu partido esteve sujeito, Gonçalo da Câmara Pereira, que fruto da coligação com o PSD está no Parlamento mas que também não irá conseguir um resultado sozinho, Garcia Pereira e Pedro Quartin Graça, pelo PCTP-MRPP e pelo MPT respectivamente.

Início

Pois é com mais algum tempo nas mãos e muita vontade de escrever, aqui começa hoje um espaço um pouco mais sério de discussão economica e política.

Vou tentar manter isto o mais sério possivel embora não pareça pelos links que vão ser adicionados.

Em breve vão aparecer os primeiros posts.