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Diário Economico

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terça-feira, 26 de junho de 2007

Batalha no BCP

O Diário Económico publicou hoje que um grupo de accionistas de relevo do BCP vão pedir uma AG para alterar os estatutos de forma a eliminar o conselho de supervisão, liderado por Jardim Gonçalves. Este modelo de governação assenta na experiência anglo-saxónica, apenas presente em Portugal na PT e na PTM. A nível teórico este modelo tem como fragilidade a falta de controlo sobre a Comissão Executiva, que nos países onde é comum, é substituída por um mercado forte, onde os gestores são avaliados ao segundo pela cotação das acções. Esta acção de controlo tanto se pode manifestar pela queda no preço como pela ameaça constante de takeovers. Na Europa Continental, o modelo vigente assenta em dois organismos distintos, sendo tarefa do Conselho de Administração (ou Conselho de Supervisão no caso do BCP) zelar pelos interesses dos accionistas e controlar a actuação da Comissão ou Conselho Executivo. Sabendo da pouca liquidez do mercado português assim como todos os artifícios que não permitem o mercado funcionar na sua plenitude, estou contra esta eliminação do ponto de vista teórico. Do ponto de vista estratégico, em que esta situação daria mais poder a Paulo Teixeira Pinto, eliminando de forma permanente o fantasma da pressão de Jardim Gonçalves sobre o governo do banco, é algo para os accionistas decidirem. E não é um ponto pacífico sendo previsível que seja bloqueada por uma minoria fiel ao fundador e actual presidente do conselho de supervisão.

Esta instabilidade só torna evidente que os accionista apenas se encontra à espera de uma oferta de compra ao banco, uma vez que as acções não param de subir mesmo neste período de indefinição, quando deveriam estar a ser penalizadas.

sábado, 23 de junho de 2007

OPA ao Benfica, onde o desporto e os negócios se cruzam

Joe Berardo lançou a semana passada uma OPA ao Benfica SAD. Como qualquer empresa cotada, a sociedade que gere o Benfica tem de estar sujeita a este tipo de acções por parte do mercado. Contudo, por ser uma instituição de serviço público não pode ser tomada de assalto de qualquer maneira. Estas questões de futebol são muito difíceis de analisar por se ter sempre uma visão apaixonada que não nos permite avaliar os factos de forma racional.
Mas o que pretende Joe Berardo desta OPA? Apesar de dizer que lançou esta OPA com o coração, o racional continua a ser o mesmo que todas as outras posições na sua carteira: fazer lucro. A marca Benfica está sob aproveitada, é o clube com mais sócios no mundo, mas tudo isso parece não fazer levar o clube a lado nenhum. Contudo este Abramovich português pode ser um passo importante para que o Benfica se possa afirmar em Portugal e na Europa. E os primeiros sinais estão a chegar com a disponibilidade de Joe Berardo financiar contratações. Mas será suficiente? O Chelsea apesar do bom plantel e da pouca falta de dinheiro já passou uma época sem qualquer resultado de relevo. O que nos faz pensar se clubes de futebol se podem comparar com empresas.
A melhor associação feita entre o desporto e o mundo empresarial é o livro Moneyball, de Michael Lewis, que nos mostra como uma equipa de baseball sem muitos recursos conseguem resultados extraordinários, sendo olhada de lado pelo principais comentadores e pelas restantes equipas. O grande obstáculo tem sido que, apesar de fazer sempre épocas regulares formidáveis, quando chegava aos playoffs nunca conseguia vingar pois faltava sempre uma pontinha de sorte. E é aqui que o desporto de distingue do mundo empresarial. O factor sorte é muito superior no desporto, apesar de também existir nos negócios.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Fnac: preços altos ou melhor serviço

À mais ou menos um mês recebi pela segunda vez uma chain mail sobre a Fnac a argumentar contra o “escândalo” que eram as diferenças de preço na Fnac em comparação com o Jumbo. Já muita gente o deve ter recebido pois como já o recebi duas vezes ainda deve andar a ser reenviado. Sobre os chain mails que defendem que se não forem reenviados a 15 amigos vais ser atingido por um raio ou uma criança do Kénia já não vai receber um rim, etc, escreverei noutra altura.
Voltando ao referido mail, o autor refere que a Fnac quando chegou ao mercado tinha preços imbatíveis e assim arrumou para o lado lojas como a Valentim de Carvalho, Loja da música, discoteca Roma entre outras. Mas passados 8 anos parece que os preços agora já não são tão baratos e como alternativa o autor sugere o Jumbo ou a Worten para se comprarem os DVD’s ou os CD’s.
Este mail gerou bastante discussão no meu grupo de amigos (todos licenciados em economia ou gestão) pois se a Fnac continua a ter lucros mesmo mantendo os preços altos algo mais deveria estar por trás de todo o serviço. É a eterna discussão entre diferenciação ou redução dos custos.
Algumas citações dessa discussão:

“…a distribuição de DVD e CD é um mercado de concorrência imperfeita e se eles cobrando preços mais altos continuam a vender e muito então não vejo onde está o escândalo. Estamos a pagar a marca Fnac e tudo o que esta associado (atendimento, qualidade do espaço e arrumação).”

“Também não percebo o escândalo: na Fnac têm tudo e mais alguma coisa, procuram-te os DVD’s, encomendam-te se não houver, etc. No Jumbo, andas tu à procura, só tens os DVD’s que vendem muito, se estiver esgotado não encomendam de propósito, etc. O preço é sempre justo se não houver coacção. Queres, vais. Não queres, não vais. Ou melhor ainda, abres uma loja concorrente.”

“Têm razão para reclamarem do preço e a melhor maneira que têm de se fazerem ouvir é irem comprar a outro lado. Se isto for um movimento geral a Fnac vai ter menos vendas e baixa os preços. O que podemos argumentar é se as pessoas são parvas e não percebem isso ou se no subconsciente a utilidade que dão a toda a marca Fnac compensa a diferença no preço. Na minha opinião compensa (não estou a ver ninguém a ler este mail e pensar "realmente nunca pensei nisso..." pois já todos fomos à Worten e ao Jumbo e sabemos que os preços são mais baratos). Eu falo no meu caso em particular. Gosto de ir à Fnac mesmo não comprando nada (…) e à Worten ou ao Jumbo isso já não acontece. Por vezes nessas minhas incursões vejo algo que quero e não tenho problema nenhum em comprar ali logo ou se preciso de alguma coisa que não encontro em encomendar ai mesmo, em vez de descer as escadas para ir à Worten.”

"O conceito de custos de procura foi dos conceitos mais interessante que me apareceram na faculdade. Tem alguns custos andar para trás e para a frente à procura do melhor preço e se calhar esses custos não compensam a diferença de preços. Vamos lá também ver outra coisa. 2 euros é dinheiro mas não assim tanto que eu perca uma tarde a correr o Colombo todo à procura do melhor preço. Quero um CD ou um DVD, também me interesso por livros, tenho isso tudo no mesmo sítio e poupo esse custo de procura. A diferença de preços justifica-se? Depende da utilidade de cada um. Se gostamos de comprar qualquer coisa só para dizer que foi o mais barato do que o teu tudo bem. Eu compro as coisas por me fazerem falta e por me darem prazer.”

“Aí tens toda a razão quanto à diferença de utilidades, agora conseguires medir o efeito entre a perda da utilidade por adquirires o produto a um preço inferior e o ganho que obtemos por um menor tempo de procura numa economia, desafio-te a medir isso...”

“Se não consegues medir com rigor, medes com base numa estimativa. E as decisões dos consumidores (preferência revelada) mostram que alguns preferem, com base nessa estimativa, pagar mais caro e ir à FNAC, do que pagar mais barato e ir ao Jumbo. Há mercado para ambos os conceitos.”

Eu não ganho qualquer comissão na Fnac mas penso que este tipo de mails insultam a inteligência de quem é, como eu, cliente assíduo da Fnac.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Flexisegurança ou o fim da competitividade Nacional

Muito se tem falado nos últimos tempos sobre flexisegurança. Para os sindicatos não passa de um demónio que permitirá aos patrões despedir indiscriminadamente os seus trabalhadores, a troco de mais uns tostões no subsídio de desemprego.
Mas a flexisegurança é mais que isso. Baseia-se na flexibilidade a contratar, despedir e ajustar e segurança durante o desemprego. Aqui não se baseia apenas no aumento do subsídio mas principalmente na qualificação e na rapidez com que se encontra o novo emprego.
A manutenção do “status quo” dos direitos adquiridos, que é a principal bandeira dos sindicatos, está a levar a que o nosso país seja apontado como um dos piores a nível da rigidez do mercado de trabalho e as consequências directas desta classificação é a perda de competitividade e o desemprego, motivado pelo desinvestimento estrangeiro. Não podemos chorar sempre que uma determinada fábrica decide fechar as portas, levando ao desemprego de centenas de trabalhadores. Se pensarmos que um mercado de trabalho mais flexível poderia ter levado a que, apenas despedindo poucas dezenas de trabalhadores, se tivessem salvo os restantes postos de trabalho, a flexibilidade surgiria como um factor empregador e não causa de desemprego. Outro aspecto a favor da flexisegurança é a aposta na formação, uma vez que já não existem empregos para a vida e só um desempregado formado poderá mudar de emprego facilmente.
O subsídio de desemprego atribuído de forma indiscriminada só faz com que a procura activa de emprego baixe, existindo toda uma economia paralela que trabalha de forma clandestina, recebendo ainda o subsídio. Este tem de ser fiscalizado e ser atribuído apenas numa fase transitória que não deverá se prolongar como acontece actualmente.
O que está em causa não é a perda de direitos dos trabalhadores. É a evolução para um mercado de trabalho mais eficiente e adaptado à realidade dos nossos dias.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Manual de como fazer política e lavar dai as mãos

Esta semana conheceu a sua sentença Lewis “Scooter” Libby, ex-conselheiro de George W. Bush e antigo chefe de gabinete do seu vice-presidente Dick Cheney. E porque foi condenado este alto funcionário da administração americana? Por ter divulgado a um jornalista a identidade de uma agente da CIA. O artigo resultante apareceu no Washington Post a 14 de Julho de 2003 e desencadeou um grande alvoroço na imprensa norte americana, pois a revelação do nome de uma agente secreta é crime. Após se ter seguido o rasto da fonte chegou-se à conclusão que tinha sido directamente do gabinete do vice-presidente Dick Cheney e confirmada depois por Karl Rove, chefe do gabinete do próprio George W. Bush. Uma pergunta pertinente seria a razão desta fuga de informação que para alem de constituir crime, compromete todas as operações em que a dita agente estava envolvida. E a resposta também não é difícil de encontrar pois esta agente é casada com o antigo diplomata Joseph Wilson, que defendeu num artigo no New York Times que o Iraque não estava a comprar urânio em Africa, um dos argumentos usados pela administração Bush para invadir aquele país.

Alguma cabeça tinha de rolar e o escolhido foi e chefe de gabinete do Vice-presidente Dick Cheney, que se mostrou desapontado com a sentença, pelo trabalho prestado por Libby ao país. A questão parecia resolvida não fosse o recurso de Libby de forma a adiar o cumprimento da pena, que poderia levar a que Bush, no fim do seu mandato, lhe desse um perdão presidencial. É incrível como a estratégia parece estar definida desde o início e já lá vão quatro anos desde que toda esta história começou.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Quem tem medo de ser comprado?

Num exemplo mais recente, o BCP. O sector bancário não permite ficar-se sentado à sombra da bananeira e a necessidade de expansão é fundamental para não se servir de alvo de compra pelos concorrentes. É isso que o BCP tem feito. Primeiro com o Atlântico e com o Mello, agora com as operações falhadas junto do banco romeno BCR e do BPI. É um sector onde ou se compra ou se é comprado. E não comprando o BCP tenta agora defender-se como pode, tentando blindar os seus estatutos, tornando bastante mais difícil uma OPA contra si. Os accionistas recusaram, percebendo que uma potencial OPA poderá trazer-lhe lucros. E é este o principal motivador dos accionistas, o retorno dos seus investimentos através da valorização das suas acções.
O que defende Marcelo Rebelo de Sousa nas suas escolhas deste domingo não faz portanto qualquer sentido. Os accionistas estão no BPI para rentabilizarem o seu investimento e se uma OPA vier a acontecer, eles tomaram a decisão que maximizar o seu retorno: ou vendem, acreditando que é o momento mais propício, ou não vendem, escolhendo a actual equipa de gestão liderada por Teixeira Pinto. Mesmo que essa oferta seja de um banco estrangeiro como o caso do ABN. Esta visão proteccionista de que tudo o que vem de fora é mau tem de acabar. Se nos queremos expandir para fora do país, e aplaudimos quando os nossos empresários o fazem, temos de deixar o mercado decidir quando a situação é a inversa. Ou então saímos da União Europeia e voltamos a mais meio século de autarcia.

António Borges, um dos portugueses mais influentes a nível de Corporate Governance, defende, numa entrevista ao Público de ontem, que o mercado é a melhor forma de defesa das empresas pois a sua disciplina obriga a que a empresa seja sempre bem gerida, sob pena de se ser alvo de uma OPA. Ao blindar os estatutos as empresas estão a dar carta branca aos seus gestores para não se sentirem preocupados pelas pressões de compra dos seus concorrentes. E isso só prejudica os accionistas, uma vez que não é maximizado o valor do seu investimento. E consequente é mau para as empresas e para a sua competitividade e é essa a questão fundamental.

Entrevista de Paulo Teixeira Pinto ao Diário Economico

domingo, 3 de junho de 2007

Doar ou vender

Na última semana foi notícia um reality show que quando ouvi pela primeira vez pensei que só podia ser brincadeira e que a Endemol tinha batido no fundo. O objectivo era uma doente terminal escolher entre três concorrentes quem ficaria com o seu rim quando morresse. Mas quando comecei a ver a exposição mediática que estava a ter ponderei que talvez fosse a sério e que a estação televisiva holandesa BNN iria mesmo para a frente com o programa. Um coro de protesto se elevou, como seria de esperar, e questões morais e éticas foram apontadas aos produtores e aos directores do canal, que pareciam decididos em fazer passar a mensagem, pois o criador do canal tinha morrido de insuficiência renal sem nunca ter recebido o rim que poderia salvar a sua vida.
Acabou por não passar tudo de uma encenação e o doente terminal que iria escolher quem ficaria com o seu rim não passava de uma actriz contratada, embora os concorrentes fossem de facto doentes com insuficiência renal. O grande objectivo do programa era promover a discussão e encontrar soluções.

Os incentivos à doação de órgãos não são propriamente os mais motivadores. Desde medalhas (que seria o equivalente adulto aos prémios dados em colónias de férias para crianças…) a descontos no funeral (que já não será da responsabilidade do doador) passando por menos tempo de prisão ou como em Israel que, não pagando pelo órgão, têm ajudas de custos que vão para além das despesas efectivas, existem muitas tentativas para acabar com a escassez de órgãos para transplante.

Há cerca de um ano li um post no Freakconomics e o consequente artigo no New York Times que alterou completamente a minha visão sobre o assunto. E se fosse permitido ao mercado corrigir esta escassez, permitindo aos doadores vender os seus órgãos ainda vivos. As objecções morais são evidentes mas tentemos pensar um pouco sem o calor das emoções. A nível médico, um rim retirado de uma pessoa viva é muito melhor que um rim retirado de um cadáver. Uma pessoa pode viver uma vida plena com apenas um rim, quando este pode fazer com que uma pessoa com insuficiência renal viva. Os custos para o doador são portanto muito inferiores que o benefício para quem recebe o transplante. Existe portanto um ganho lógico e global que advém dessa transacção. No estado corrente, o ganho para o receptor é óbvio, o médico e as enfermeiras também ganham com isso, assim como o hostipal e as farmacêuticas. Só o doador tem de desempenhar a sua função de puro altruísmo sem receber nada, com o custo de ter de viver com menos um rim. Não é portanto difícil de perceber o porquê da escassez de órgãos para transplante.
Moralmente talvez ainda não estejamos preparados para este mercado. Mas quantas pessoas têm de morrer para que estejamos?