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Expresso

terça-feira, 10 de julho de 2007

Por que vai Costa ganhar Lisboa

As eleições intercalares para a Câmara de Lisboa estão, desde a sua antecipação e da apresentação de António Costa como candidato pelo PS, condenadas à vitória da alternância e a serem quase relegadas para segundo plano, tanto no noticiário nacional como na consciência colectiva da importância deste escrutínio. Isto apesar da sensibilidade política motivar a possibilidade de uma forte penalização do governo, em queda nas sondagens. Existem, no entanto, algumas explicações para que isso não suceda.

A primeira razão prende-se com a anterior governação. Tenho por Carmona Rodrigues uma impressão de seriedade. No entanto, a sua actuação no campo político, já que tempo não houve para uma análise mais profunda, foi pouco mais que aceitável. Durante o tempo em que governou a Câmara nunca deu a ideia de controlar verdadeiramente a situação e deixou que o partido pelo qual tinha sido eleito lhe tirasse o tapete quando mais precisava de apoio. E isso aconteceu porque a sua dinâmica de actuação foi sempre reactiva e nunca pró-activa. Tentou reagir à situação cada vez mais constrangedora da Câmara, reagiu sempre às declarações de Marques Mendes, reagiu à sua tomada de decisão de provocar eleições… sem nunca mostrar estar ao leme da autarquia, com a situação controlada. Mas antes passando para a opinião pública a ideia de que não conseguia vencer as sempre numerosas influências partidárias. Em política, tão importante como fazer, é demonstrar que se sabe o que se está a fazer e que se tem um caminho definido, sendo convicto e convincente. Foi precisamente o que Carmona Rodrigues nunca demonstrou ser.

O segundo aspecto importante que determinará a vitória de António Costa tem a ver com a situação financeira da câmara. De tão aflitiva que é (embora sem responsabilidade directa aparente do presidente cessante), não deixa margem de manobra ao eleitorado para decidir por uma personalidade de risco (como seria Helena Roseta) e beneficia a maior previsibilidade da alternância entre os dois grandes partidos (ao contrário do que se poderia pensar numa primeira análise). Por outro lado, os lisboetas, neste momento, recebem com agrado as constantes palavras que o candidato tem dedicado a este tema, considerando-o o mais importante na governação de curto prazo. E é, sem dúvida. Não é tão claro, ainda assim, que a aposta na repetição deste argumento em campanha seja produtiva para quem a faz. No entanto, parece-me claro que, neste momento, o é. O país e Lisboa estão numa situação de crise mental, o que beneficia a frontalidade das propostas mais realistas.

Por último, mas não menos importante, é a forma como, nos últimos anos, se assiste às eleições em Portugal, Os cidadão estão cada vez mais longe da actividade política e alheados das verdadeiras propostas de cada candidato. Isto implica, necessariamente, uma maior previsibilidade nos resultados, que não serão muito diferentes das sondagens do dia a seguir ao anúncio da realização de eleições. O que só demonstra a quase inutilidade da campanha para os resultados finais. Os candidatos são previsíveis, não deixam escapar um pormenor do enfeite mediático e pouco se diferenciam. É, assim, hoje improvável observar uma recuperação, como aconteceu, por exemplo, com Mário Soares nas presidenciais de 86.

António Costa vai, portanto, vencer as eleições sem que para isso tivesse de realizar uma grande campanha ou esboçar um grande plano para a cidade. Oxalá o tenha…

4 comentários:

Anónimo disse...

Uma previsão acertada, sem dúvida. Ainda assim, o grande vencedor foi mesmo a abstenção.

Encontrei uma nota curiosa num blog, acerca disso:

"(...) António Costa teve menos 17115 votos do que Manuel Maria Carrilho conseguiu em 2005.

Carrilho teve 75022 votos. António Costa ficou-se agora pelos 57907.

É certo que há vários factores explicativos para este diferencial, mas, mesmo tendo-os em conta, é uma diferença que dá que pensar (...)"

Futscher disse...

Devido à elevada abstenção creio q esses números comparam coisas que não podem ser comparáveis.

Deve-se comparar as % de votação, algo que António Costa superou em 2.9% Manuel Maria Carrilho.

Contudo acho que foi uma vitória que soube a pouco, a candidatura de Helena Roseta retirou alguns votos ao candidato do PS.

Dados retirados daqui:

http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?id=250268&idselect=90&idCanal=90&p=200

Anónimo disse...

Ola a todos,

como é certo o grande vencedor destas eleições, como ja foi referido foi a abstenção, que quando a mim se deve à grande indiferença que a população em geral olha para a política de hoje em dia.

O que a mim me faz mais confusão é ver os comentários dos candidatos após apurados os votos, onde se constata que não há perdedores!!! O que para mim é ridiculo...

Uma pequena nota de desacordo contigo Pedro, quando disseste e passo a citar:

"Em política, tão importante como fazer, é demonstrar que se sabe o que se está a fazer e que se tem um caminho definido, sendo convicto e convincente. Foi precisamente o que Carmona Rodrigues nunca demonstrou ser."

pode apenas ser impressão minha (o que poderá até ser provável...), mas que o Eng. Carmona sabia o que fazia, mostrou-o bem em debates, quanto ao seu rumo... bem, aí ja será uma outra história...

E é esta a minha humilde opinião, concordante com todos os teus comentários e aqui fica um abraço deste teu ex-colega.

Anónimo disse...

....que quem ganhou tem cara de Sargento Lateiro ...tem ...
e a ver pelo fogo de vistas que lançou no MAI sem nada fazer ...
está visto que os lisboetas não vão ganhar nada com a votação que fizeram ...
Incrivel foi os lisboetas terem cagado nas eleições e o resto da população portuguesa é que teve que gramar com o cheiro das eleições lisboetas

Saudações Raio de Trovoada Seca