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Expresso

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Israel e Palestina: o "lopping" dos dois Estados

Quando, depois da Segunda Guerra Mundial, se criou o estado de Israel, talvez poucos vaticinassem que, passados sessenta anos, uma das questões mais fundamentais para a estabilidade geopolítica a nível mundial passasse, não só por essa região, mas pela própria definição do estado então criado. George W. Bush anunciou que, neste momento, o seu plano passa pela realização, no Outono, de um conferência internacional que promova a intenção de reavivar a solução de dois estados, Israel e Palestina, que se respeitem e coexistam em paz. Parece-me que esta solução, que vem sendo defendida há já alguns anos, é relativamente consensual para quem olha para esta questão de uma forma desapaixonada e distante (e, por essa razão, potencialmente geradora de erros). Apesar disso, esta “nova” atitude de Washington difere em quase nada daquela que foi defendida, em 2002, pela mesma administração. O que só pode ser visto como um fracasso das iniciativas desde então. Não devemos, no entanto, desprezar esta nova vontade americana de colocar esta questão no topo das suas prioridades. Em primeiro lugar porque os EUA são, em larga medida, os únicos agentes capazes de liderar a definição de uma nova realidade na região, fruto das relações privilegiadas com Israel, que lhes conferem uma autoridade para colocar pressão de uma forma que nenhum outro país conseguirá fazer. E Israel, como “força maior” deste conflito, precisa de ter uma pressão forte, sob pena de uma das partes do conflito não ter incentivos a ceder em questões importantes das negociações. O que implicaria um fracasso certo. Em segundo lugar devido à vontade da actual administração, à semelhança do que já acontecera com Clinton, de, com a aproximação do final do segundo mandato, mostrar determinação em resolver esta delicada questão. Poucas coisas dão mais agrado a um governante do que ficar ligado à resolução de um problema que se arrasta há demasiado tempo.

A União Europeia, por seu lado, pretende desempenhar neste processo um papel importante, que a coloque num patamar da diplomacia mundial que ainda não foi capaz de desempenhar. Neste processo, a liderança natural dos EUA enviesa a análise do papel que a Europa pode desempenhar. A força de União Europeia residirá, não só na forma como conseguir agir a uma só voz, mas também na capacidade que terá de proporcionar a Tony Blair a hipótese de fazer a diferença onde outros anteriormente falharam. Era isto que defendia Teresa de Sousa no Público, na semana passada.

A última questão que me parece fulcral é a forma como se conseguirá, ou não, na tentativa de reforçar Abbas (líder da Autoridade Palestiniana) e marginalizar o Hamas (já em parte conseguida), convergir para uma solução em que o novo estado palestiniano agregue todas as tendências. O perigo é, logicamente, enorme e reside no facto da possibilidade desta questão se tornar num impedimento ao sucesso das negociações, se existir vontade de alguns sectores do povo palestiniano em boicotar a solução. Será difícil entender os verdadeiros motivos que levam os mártires muçulmanos a julgar o conflito com as próprias vidas. Mas não deve ignorar-se o sentido dessa luta. Porque ela pode representar um importante veio de comunicação com o Ocidente e abrir caminho a uma resolução mais estável. No filme “Paradise now”, que retrata esta questão, o realizador Hany Abu-Assad, tenta mostrar-nos a insuportável pressão a que se encontram sujeitas estas pessoas e o terrível mundo subterrâneo dos que os treinam e incentivam. E demonstra que o povo não pode ser confundido com pessoas para as quais o único objectivo é criar instabilidade, que conduza a resolução nenhuma. E que no íntimo das dúvidas que estas acções suscitam está a força que dão a posições radicais do lado israelita.

Provavelmente, estas iniciativas recentes não conduzirão a nada mais que as últimas. Mas há espaço para que seja diferente. E perigos a considerar.

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